Diário de um fumador

Apenas o desespero na forma de palavras

5 de janeiro de 2008

O cigarro rotineiro

O que nos leva a fumar um cigarro?

Acender um cigarro em determinadas alturas do dia é um hábito que os fumadores adquirem, à medida que os anos vão passando. Nem sempre (quase nunca) é uma necessidade física. Muitas vezes, "puxa-se" de um cigarro porque, sem motivos aparentes, estamos habituados a isso. A esse fenómeno, chamo-lhe "cigarro rotineiro". Os exemplos são dos mais diversos: Depois de tomar café, numa viagem, na pausa entre tarefas, no fim de um trabalho árduo, a falar ao telefone, depois de uma boa notícia, depois de uma má notícia...



Nestes últimos dois dias, vivi muitas dessas rotinas, onde senti a falta do cigarro para acompanhar tais vivências.

Já lembrei os intervalos das aulas, que não custaram assim tanto a passar, depois de ser obrigado a viver outras situações. As viagens custam a fazer; as noites, vagarosas, no meu quarto, demoram a passar; o café da manhã sabe sempre a pouco...

A situação que mais me custou ultrapassar aconteceu ontem.

O final da semana é tempo de reencontro. O Quebra-tolas, lugar comum a muitos fumadores, é apenas o mote para o início de uma noite que pode ser sempre o que nós quisermos.

Tenho a sorte de ter amigos, em especial dois, com quem converso horas a fio. Um deles não fuma. Por isso, falarei nele quando assim considerar pertinente. O outro fuma há já algum tempo.
Ontem, como desde há muito me habituei, saí do bar com ele, para dar uma volta de carro pelas redondezas, onde os cigarros e a música são as únicas testemunhas da nossa cumplicidade. Assim como ele não esconde o sentimento de orgulho por eu querer deixar de fumar, eu também não lhe peço para evitar fazê-lo à minha frente. Os amigos são assim. A minha liberdade acaba quando começa a dele.
A verdade é que senti mesmo a falta de um cigarro, enquanto partilhava mais um ponto de vista acerca de um qualquer tema, relacionado com um assunto qualquer. E, mais uma vez, porque é sempre disso que se trata, havia uma opção a tomar.
Ou pedia para ele me deixar em casa, porque não aguentava mais ficar ali sem fumar,
Ou fumava uma cigarrada com ele, ao som da música perfeita para o reencontro com o viciado prazer da nicotina.
Não optei nem por uma nem por outra. Nem sequer lhe falei nesta angústia.
Não disse nada. E conversámos pela noite dentro, no passeio habitual. Como se eu estivesse a fumar ou como se nunca tivesse fumado. O que me levou a optar por isso? Prefiro o desalento de não fumar do que a ausência das nossas conversas.
Porém, ainda me apetece fumar.

3 comentários:

Anónimo disse...

setor amigo quero-lhe dizer que as vezes me arrepio com as palavras que escreve..´
estou super orgulhosa do setor ter iniciado esta batalha e estar a conseguir apesar das dificuldades.
mas a vida é mesmo assim feita de dificuldades mas eu acredito que terá força e empenho para conseguir ultrapassar as dificuldades que este desafio lhe esta a dar...
orgulho-me imenso de si
adorei a parte em que se refere ao seus amigos.. a vai desde ja o meu obrigado ao seus amigos por lhe fazerem feliz.

bjs Monica

Rui disse...

Olá Mónica,
Obrigado pela visita.
Se eu fumar, sei que te vou desiludir e isso é mais um motivo para não voltar ao vício.

André jesus disse...

Prefiro o desalento de não fumar do que a ausência das nossas conversas.

* Bom, eu não queria comentar, estava numa de vir cá só para ver o que o professor/escritor Rui fazia. Mas sinto-me "obrigado" a comentar e dizer que este blog e as suas palavras claro, vão fazer parte da minha routina. :D
Brilhante mesmo, ter um blog destes para ler depois das aulas.

Abraço

Reduzido a cinza

A minha foto
Canas de Senhorim, Viseu, Portugal
À espera de palavras...