Diário de um fumador

Apenas o desespero na forma de palavras

7 de janeiro de 2008

Uma para o teu diário... vinda do "Público"

Esta mensagem foi-me enviada por um amigo. Um amigo distante, mas perto do coração. Deixou-me o recado que coloquei no título. Aqui vai o resto:

Por ser festa de Reis, Gonçalo, com oito anos, fumou 23 cigarros em dois dias
07.01.2008, Ana Fragoso

Mais parece uma provocação às restrições da nova Lei do Tabaco, às campanhas anti-tabágicas e à proibição de vender cigarros a menores de 16 anos. São os reizinhos fumadores.
Porque sofre de asma, Carla Teixeira, com 17 anos, nunca pegou num cigarro e deve ser uma das poucas excepções dos habitantes da aldeiade Vale Salgueiros, no concelho de Mirandela, incentivados a fumar apartir dos cinco anos de idade, mas apenas na festa dos Reis."Eu não posso, mas até me arregalo de ver as crianças fumar neste dia,porque é tradição", afirmou em pleno ambiente de festa, ao lado de três miúdos de dez anos que exibiam o cigarro na mão."Eu já fumei dez cigarros", gabava-se André Rouxinol, de 10 anos,confessando que ficou "um pouco tonto" quando alguém lhe deu umcharuto. Este menino "provou" o primeiro cigarro com apenas cinco anos e repete esta espécie de "ritual", todos os anos nas comemorações dos Reis. Gonçalo Santos, de oito anos, assumia-se como "o mais valente" deste ano, garantindo que já tinha fumado "23 cigarros em dois dias". Às 11h00 de Domingo, puxou do terceiro cigarro do dia. Sem qualquer dificuldade acendeu-o e começou então a fumar quase compulsivamente,sorrindo sempre que libertava o fumo. "Hoje todos fumamos mas depois da festa acabou", repetia revelando os ensinamentos e as regras que lhe foram transmitidas pelos mais velhos. Ana Raquel, de 11 anos, menos resistente que os amigos, revelava ter fumado "apenas" dois cigarros na noite de Reis. "Ontem só me deram dois, fumei-os logo de seguida, mas logo o meu pai já me dá mais", afiançava confiante na vontade dos pais. Por dois dias (5 e 6 de Janeiro) ignoram-se todas as campanhas anti-tabágicas, os objectivos da nova lei do Tabaco e até as regras do
os nossos costumes que queremos preservar", reagiu Manuel Teixeira, não fumador que não se sente incomodado com os cigarros dos outros. "A tradição pode ser chocante para quem vive fora desta aldeia mas vem desde o princípio do mundo", comentou Zulmira Borges, de 70 anos, incapaz de explicar a origem disto. É uma festa sem regras que entusiasma a garotada que, por algumas horas, exibem comportamentos de adultos. Os próprios pais e avós compram os cigarros às crianças e ninguém se atreve a contestar a tradição. "Isto vem de tempos antigos e é um orgulho ver a garotada a dar seguimento à tradição", argumentava José Ferreira, com 73 anos. "À minha neta de oito anos dei-lhe dois cigarritos e mete graça vê-los ali de cigarro na mão a chupar", acrescentava, mostrando um certo orgulho neste estranho incentivo. Assim se começa o vício. Mas há sempre quem tema as consequências, como é o caso de Eliana Taveira. Mãe de duas crianças de seis e nove anos, tem adiado ano após ano a compra de tabaco para os filhos que, "por sorte" ainda não pediram. E os receios advêm da própria experiência. Nascida e criada em Vale Salgueiros, Eliana foi incentivada a fumar em criança e apanhou-lhe o gosto. "O problema é gostar. No Dia de Reis fumamos à frente dos adultos e o resto do ano começamos a fumar às escondidas", contou. Durante alguns anos confessa que foi "viciada" no tabaco, mas conseguiu superar e agora receia pelos filhos. José Ferreira conhece bem o risco e conta que foi complicado dizer a uma das netas, agora já adulta, que às crianças só era permitido fumar durante a festa: "A rapariga gostou e depois queria fumar todos os dias, depois tivemos de a proibir". O septuagenário insiste que a tradição se deve manter e recorda que na sua meninice tinha de ir roubar "dois ou três quilos de azeitonas" aos olivais dos vizinhos, "para vender aos comerciantes" em troca de um maço de tabaco. "Agora há fartura, é deixá-los fumar", dizia entre risos. Em Vale Salgueiros há muitos adultos fumadores e esta é uma das poucas aldeias do Nordeste transmontano onde os cafés se adaptaram às novas exigências para conseguirem licenciamento como espaços onde é permitido fumar.

Já tinha ouvido falar deste fenómeno!
Sem comentários.

4 comentários:

jes disse...

Boa noite. Não nos conhecemos, mas isso é comum.
Dei com este blog por acaso, como tantas coisas na vida acontecem. Como começar a fumar também acontece. Por acaso, mas porque queremos deixar que aconteça.
Como deixamos de fumar quando queremos, se queremos.
Li com prazer o blog, com o prazer de ver que vais (desculpa o tratamento por tu) conseguir porque me parece que queres mesmo.
E parece-me porque revi o meu caminho de há já 13 anos, após 16 de fumo.
Parabéns, eu sei que não é fácil, mas garanto-te que compensa e estás a ir no bom caminho.

PS: Digam o que disserem, acredito que a substituição pelo penso não é boa. A falta física acaba em pouco tempo. O hábito gestual/social é bem mais forte. E vencido esse, a vitória está garantida

jes disse...

Esqueci-me que não tenho perfil no blogger, o que impede que me respondas, caso queiras.
Aqui fica: jesquilo@gmail.com

Anónimo disse...

desta historica fora do comum axo« que a uma coisa que deve ter em conta, que é a srª que deixou de fumar.
para que veja que deixar o vicio é possivel. bjs
parabens pelos 8 dias sem cirragos

Rui disse...

Boa noite Jes,
Prefiro responder por aqui, já que foi este o caminho que nos trouxe ao encontro um do outro.
Ouvir testemunhos reais é uma enorme ajuda. Principalmente hoje, que a vontade de fumar (parece-me) aumentou um bocadinho e contarei porquê no próximo post. Se tivesse cigarros na altura, fumava mesmo.
Ao contrário de ti, tenho fé nestes adesivos que me marcam a pele, dia após dia. E já me passou pela cabeça se (quando terminar o tratamento) me irei aguentar. Mais uma dúvida, a juntar a tantas outras.
Quanto ao hábito, ao gesto... Mantenho as mãos no bolso o máximo de tempo possível. Agradeço ao frio, neste aspecto, que também me obriga a refugiar-me em locais onde é proibido fumar.
Por último, quero dar-te os parabéns por já teres vencido a batalha que agora comecei.
É sempre bom perceber que há pessoas que conseguiram atingir o que para mim, há uns tempos atrás, parecia de todo impossível: Uma vida sem tabaco.
Obrigado.

Reduzido a cinza

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Canas de Senhorim, Viseu, Portugal
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